Lar, um espaço de transição
Sobre
Data | 25/04/2023 — 25/05/2023 |
Curadoria | Arthur Jorge Lima Thais Domingues |
Produção | Alto |
Artistas | Allan Salas Ana Suligoj Camila Maresse & Gabriele Chiapparini Glesson Paulino Katerina Kouzmitcheva Ludwig Nikulski Mathias Benguigui & Agathe Kalfas Matjjaz Tancic M’hammed Kilitoé |
Categorias | Fotografia |
Catálogo | Português Inglês |
Apresentação
Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade.
Os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos e propensos a mudá-la.
(Zygmunt Bauman)
Um clique e um momento transforma-se em estático. Desde moléculas em fotografias microscópicas, cenas cotidianas ou belezas naturais em grande escala, como nos lembra Katie Thurmes, “Nós tiramos fotos como uma passagem de volta para um momento que já se foi.”
Simultaneamente, os registros estáticos da fotografia desempenham o papel de catalisadores das transformações. Na era moderna, a maleabilidade e a mutabilidade do ser humano aumentam em relevância. Cada indivíduo é, no exato momento presente, um reflexo das experiências e das metamorfoses vivenciadas ao longo da vida.
Na exposição coletiva ‘Volátil’, o próprio ‘tempo’, fixado pelas lentes fotográficas, é ressignificado por meio da interpretação e observação dos artistas, resultando em uma representação eloquente da mutabilidade intrínseca ao ser humano e à natureza. Cada nova abordagem e interpretação de um momento específico contribui para a construção de uma perspectiva líquida do tempo.
Através da exposição, os artistas transcendem barreiras entre o sólido e o líquido, o mutável e o fluido. A ressignificação de um dado enquadramento ocorre em aspectos micro e macro pelos artistas, criando um ambiente que transcende contornos pré-estabelecidos entre o corpo físico e psíquico, questiona a simbiose entre essência e influência, entre a natureza e o homem.
O recorte de tempo e a intimidade do olhar, cria nas obras da exposição um diálogo mostrando a beleza e importância do movimento. O equilíbrio da natureza através do caos, o ponto de fissura ou a imprevisibilidade são registrados de forma fluida através de esculturas que, em seu processo, sofrem diversas queimas e mutações, que dependem da interação entre água, terra, ar e fogo em seu processo.
São registrados através de pinturas e esculturas fotográficas que surgem da revisita em fotografias documentais, de análises sobre a ocupação espacial e temporal ou do destilamento de imagens. Registrados através da ressignificação de códigos gestuais religiosos, mostrando não só o limite da imagem como ícone mas também a mudança do conceito de poder no mundo contemporâneo: do material ao fluido. São expressões do corpo em movimento, da incorporação na mutabilidade como parte natural do ciclo. São trabalhos voláteis, porém profundos, indo de encontro com a era da instantaneidade.
As novas interpretações de cada artista sobre um momento, cria uma perspectiva líquida sobre o tempo. Líquida, segundo Zygmunt Bauman, como a modernidade que não mais relaciona o poder com espaço físico, mas sim com a mobilidade. A exposição torna o tempo e o espaço transitórios através de obras que, mesmo sólidas, registram a volatilidade. A contradição entre trabalhos estáticos representando o fluido, bem como os processos de criação e técnicas dos artistas, mostram ao espectador de forma divertida a relutância do homem em aceitar a mutabilidade e falta de controle como parte do ciclo da vida. Volátil – adjetivo – no sentido figurado é sinônimo de variável, volúvel, inconstante ou instável.
(Por Thais Domingues)